quinta-feira, 21 de outubro de 2010

No fundo do copo

Pegas no copo e dás um prolongado gole na esperança que o líquido nele contido te ajude a preencher o vazio criado por uma adolescência não vivida. Gostarias que fosse assim tão simples. Que bastasse um estado ébrio para te apagar de vez as dúvidas e os receios e te arrancar finalmente dessa entidade amorfa em que te tornaste uma simples desculpa que lhe dê a ela algo que a permita reparar em ti. No entanto, sabe-lo bem que preferes o prazer da hipótese incerta à crueza da realidade. É que a realidade, essa, tem insistido em tirar-te o sabor do «se» delicioso com que preenches os sonhos sobre aquele ser tão cuidadosamente idealizado e que insistes em não matar.
Desapontado contigo mesmo retornas ao copo momentaneamente esquecido simplesmente para constatares que, como tu, este se encontra já vazio.

2 comentários:

patrícia disse...

'E...

Cláudia Silva disse...

Como é bom ver que alguém nos descreve na perfeição, mesmo sem querer, precisamente quando mais precisamos disso.