quinta-feira, 4 de março de 2010

Nada

Maldita vontade de escrever.
Sentes a inspiração a correr-te apressadamente pelas veias, começa a comichão nos dedos, aquela terrível comichão que te inquieta daquele jeito incessante que tão bem conheces. E cedes à tentação. Agarras na primeira caneta que te aparece pela frente, puxas por uma folha do caderno e preparas-te para vomitar de uma vez todas as ideias que te atormentam desde que te conheces como gente. Mas nada sai. Nada nunca sai da ponta daquela caneta. Oh como tudo é tão mais elaborado dentro dessa mente! E como nada do que pensas consegue transpor intacto essa cela solitária que se tornaram os teus pensamentos. Odeias o que crias, tudo aquilo que produzes, tudo aquilo que fazes, é lixo. Estás preso. Amordaçado dentro de ti mesmo e não tens como o evitar. A frustração interna é tremenda. Gritas, barafustas, destróis tudo à tua volta até caíres exausto, ou até perceberes que tudo isso se passa ainda dentro da tua mente. Cá fora tudo está silencioso, tudo está calmo. A caneta continua apontada ao papel, à espera. O papel, esse, continua em branco, reflexo daquilo que és, daquilo que te tornaste.
Nada.

7 comentários:

T disse...

Já somos muitos.

Catraia_Sofia disse...

descrição sublime

Niz disse...

"A frustração interna é tremenda. Gritas, barafustas, destróis tudo à tua volta até caíres exausto, ou até perceberes que tudo isso se passa ainda dentro da tua mente..."

Perfeita descrição. Já sou tb...

Carla austríaca disse...

Muito bom. Parabéns ;)

Erre disse...

Confesso que agora fui apanhado de surpresa com os simpáticos comentários aqui deixados...

Obrigado pelos incentivos!

PaT disse...

Gostei de te ver escrever nada!

O vazio às vezes é tanto...

P.A. disse...

Escrever é de certo modo esquecer. É uma das maneiras mais agradáveis de «ignorar» a vida.

Provavelmente, por isso nos sentamos diante da «folha de papel» e escrevemos: mesmo que não seja a tinta, mesmo que no fundo não seja nada. Escrever o quê? Para quê? Escreve e não perguntes. Escreve para te doeres disso, de não saberes. E, provavelmente, só pelo facto de o teres feito, já houve resposta bastante para a tua pergunta.