Não consigo mais enfrentar estas quatro paredes. As mesmas onde tantas vezes procurei refúgio, e onde os dias se iam passando enquanto observava e vivia o mundo pelo lado de dentro da única janela que lhes dá luz. Agora apenas me sufocam. Agora o impulso é de fugir delas a todo o momento e vaguear perdido pela cidade, sem destino a lugar algum, e andar, andar até não ter mais fôlego. Enquanto ando, não penso, apenas observo «as casas, os carros, as pontes, as ruas» e as pessoas que por mim passam, na vã esperança de, por obra do acaso, me deparar com os teus olhos mais uma vez. Todas as minhas saídas não passam disso, na verdade, de ter uma desculpa para talvez te encontrar e poder contemplar de novo esses olhos cheios de juventude, de esperança, de garra e de brilho quando falas daquilo que amas. É que, lá no fundo, o que eu quero mesmo é que os teus olhos um dia brilhem assim quando falares de mim e sejam enfim aquilo que finalmente preencha o vazio. E é por isso que todos os dias percorro a pé esta cidade de uma ponta a outra e só quando já não posso mais volto então ao sufoco destas quatro paredes.