quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O meu "Criseómetro"

É bastante simples. Os meus pais - nascidos numa altura em que matarem-se a trabalhar desde os 10 anos era a única solução para uma família de classe baixa ter o que comer diariamente - colocaram sempre à frente de tudo a necessidade de ter um emprego, até mesmo dos direitos a que tiveram acesso depois da revolução. Direitos esses que foram vendo lenta e gradualmente reduzidos ao longo dos últimos anos na esperança de que isso ajudasse a melhorar um futuro já de si incerto. Primeiro foram as festas de Natal, depois as regalias e incentivos, e houve até uma redução no salário do meu pai "para se poder manter a empresa a funcionar". Para além disso, nunca os vi contestarem nada, algo que foi sempre encarado por mim como uma dedicação rara às suas empresas e uma confiança quase cega nos seus patrões, situação que acima de tudo nunca compreendi. Sempre o interpretei como uma resignação assustadora, principalmente por parte da minha mãe, pessoa que não me lembro de alguma vez não ter feito horas extra de pagamento duvidoso e de não ter férias ou salários em atraso.
Por isso mesmo, quando o meu pai decide aderir a uma greve, sei que é motivo para ficar seriamente preocupado e que não vem aí nada de bom. Se for a minha mãe a fazê-lo, é motivo para entrar em pânico e preparar-me para o Apocalipse. Também sei que agora este meu texto iria ter um maior e mais interessante efeito trágico-cómico se dissesse que hoje os dois tinham decidido aderir à greve geral. Mas não é assim. O meu pai está em greve. A minha mãe saiu para mais um dia de trabalho.

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