sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Desabafos

Luto há vários meses, em vão, contra a inércia da escrita. Não é nada que não me tenha acontecido antes, mas desta vez tudo, cá dentro, parece vazio e a vontade, aquela irrequieta comichão na ponta dos dedos, desapareceu para parte incerta. Dizem-me que se quero escrever não posso parar, que tenho de insistir, mas comigo isso não funciona. A escrita nunca foi para mim uma actividade séria, nem talento tenho para tal, sei-o bem. Sempre foi mais um remédio, uma purga mental daquilo que me consumia. E agora parece que já não há aqui nada.
Talvez a monotonia solitária de um início de vida de gente crescida me tenha consumido a ilusão e apagado a chama da esperança num futuro e num mundo interessantes e inesperados. Talvez por isso nada tenha restado a não ser o vazio. Ou então, também não ajude pensar que conheço finalmente os monstros que me atormentavam e que tenha encontrado forma de os manter saciados e aprisionados. Mas não vamos por aí e deixemo-los estar como estão. Que uma vida inteira de desejos e actos reprimidos de alguém que nunca partiu um prato numa adolescência não vivida e que sempre fez o "correcto" em detrimento de tudo o resto, são um aglomerado corrosivo e perigoso de mais para se deixar indiscriminadamente à solta.
Mas o tramado nisto tudo é que sendo eu o pãozinho sem sal que sou, e que já quase nada de interessante ou de apelativo tinha para o sexo oposto e restantes seres humanos em geral, vejo-me agora sem o pouco que podia ainda de alguma forma aproveitar para me manter sociável. Algures, pelo caminho, perdi-me. Não sei se consigo voltar a encontrar-me.

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