Nunca mais te vi. O que é uma pena, pois na confusão dos apertos do Metro sabe sempre bem de vez em quando vislumbrar, ainda que por meros instantes, alguém que nos alegre as manhãs, mesmo que as razões da nossa alegria de puras nada tenham.
Ostentando uma aura de ser sagrado em território profano, delicadamente entraste carruagem adentro como se flutuasses. Com teu ar bonito e frágil recostaste-te no canto contrário ao meu e fascinado pude então ir atrevidamente contemplando a tua doce face e os teus suaves contornos. Pelo menos até esses olhos, esses grandiosos olhos capazes de conquistar impérios, se fixarem por instantes em mim.
Sou um fraco, eu sei. Mas não estou habituado a ser visto por olhos assim, olhos aos quais normalmente sou invisível, e por isso com a cara a arder lá desviei o meu impróprio olhar. E foi aí que reparei nas tuas mãos e no anel que trazias no dedo. Era daqueles anéis de diamante que nos filmes se costumam dar às princesas. A constatação fez-me soltar um triste sorriso, pois bem que desconfiei que fosses realeza, só que afinal já tens príncipe. E foi por isso que aqui o sapo lá arrumou a trouxa e seguiu o seu caminho.